domingo, 21 de julho de 2013

ACONCAGUA

Desde que conheci o mundo da aventura, minha cabeça seguia firme no propósito de escalar uma alta montanha. O Aconcágua era meu mais desafiador objetivo naquele ano de 2004. Para isso, precisava treinar por vários lugares com elevações possíveis, aqui no Brasil. Serra fina, Itatiaia, Monte Verde, foram alguns dos lugares onde me dediquei ao treinamento para o desafio que seria o Aconcágua!



Naquele período, eu já havia corrido provas de maratona, travessias longas de natação e 3 provas de Ironman. Eu achava então, que estava mais do que preparado para enfrentar o desafio de escalar a montanha mais alta das Américas, com 6.962 metros de altitude.
Um mundo inimaginável para mim, até que, chegando lá pude entender o que realmente significava estar nas alturas. Falta de oxigênio, noites mal dormidas, terreno que exige o máximo de esforço físico e mental, faz com que você se sinta minusculo diante daquela natureza selvagem e esplendida.
Nesta aventura, estavam comigo os amigos Rodrigo e Venâncio, dos quais, somente o primeiro já havia estado lá. Eu e o Venâncio eramos montanhistas de primeira viagem.
Quando cheguei ao campo base Plaza Argentina, a 4200 metros de altitude, não sabia avaliar racionalmente o quanto aquela montanha era alta, imponente, desafiando quem se aproximasse dos seus flancos.
Depois de três dias de aclimatação e aproximação, ficamos um dia inteiro no campo base descansando para enfim partimos para nosso próximo teste, o campo 1 avançado. Ali sim iria de fato começar a escalada. Ao chegarmos ao campo 1, levando parte de nossos suprimentos e barracas, retornamos ao campo base para recuperação do organismo. Senti um pouco de dor de cabeça lá em cima, nada além. Meus amigos ficaram um pouco mais debilitados, mas estávamos na "segurança" do campo base. Passamos pelo posto médico para avaliarmos nosso aporte de oxigênio no sangue e voltamos para nossas barracas para comer e descansar.
Ao lado, havia uma barraca de apoio do Daniel Lopez Expediociones, onde pudemos obter água quente, suco e a especial atenção do Daniel, um argentino, guia de montanha muito gente fina.

Como nosso corpos ainda não estavam preparados para a sequência da subida, ficamos mais alguns dias em recuperação até que o médico do campo base nos desse o sinal verde para nossa escalada. Nessas alturas eu já estava com o saco na lua. Minha cabeça começou a martelar com lembranças do meu filho Gabriel que na época tinha pouco menos de 4 anos. Não conseguia me concentrar. Fui desanimando literalmente. Procurei um guarda parque na esperança de poder voltar para o inicio da trilha e ir embora daquele sofrimento. Já não era mais diversão, estava se tornando um verdadeiro martírio.
O Daniel ainda me disse algo que ficou marcado para sempre na minha cabeça: quando se vai para a montanha, tranca-se a porta de casa e não pensa mais naquele lugar, deixando sua cabeça somente com você, pois irá precisar muito dela em momentos cruciais.
Mas meu sofrimento estava chegando ao fim naquela temporada. Meus amigos resolveram escalar rumo aos campos superiores e tentar o cume na melhor oportunidade que encontrassem. Eu retornei a Mendoça e na manhã seguinte estava embarcando para o Brasil, de volta para minha casa, de volta para meu filho Gabriel. No retorno ainda pensei se não havia exagerado na minha decisão. Afinal, não chegar ao cume da montanha mais alta das Américas foi uma frustração e tanto. Só me restava me preparar mais psicologicamente e quem sabe retornar um dia!

Assita ao video: http://youtu.be/bDpNhxiZa9E
  

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