quarta-feira, 14 de agosto de 2013

MOUNTAIN BIKE

Era 1998, estava me preparando para competir o Ironman do Brasil, em Porto Seguro, na Bahia. Gostava de iniciar os preparativos dos treinos, principalmente o de ciclismo, pedalando em trilhas e estradas de terra, para fugir do stress das rodovias asfaltadas e com muito transito, barulho e perigo eminente.
Certo dia, pedalando com o Lauro, meu companheiro de treinos, ele me convidou para irmos pedalando até Monte Verde em Minas Gerais. Na hora, fiquei meio sem saber se ele estava falando sério ou brincando como sempre fazia. Achei uma loucura pedalar 200 quilômetros em apenas um dia. Mas como sempre gostei de desafios, topei na hora.
Juntaram-se a nós, Dirceu, Marcelo e Tito, meu compadre. Marcamos o dia e a hora da saída, que seria no final de setembro, às 5 horas da manhã. O dia nem havia clareado e já estávamos a postos em frente a casa do Lauro. Este, sempre era o último a se arrumar. Muito folgado o sujeito, rsrs. Enfim, saímos pela estrada do Quilombo até atingirmos Jundiaí, SP, depois seguimos pela rodovia D. Pedro até a entrada de Joanópolis, já bem próximos da Cachoeira dos Pretos. Neste ponto, marcado para ser os últimos quilômetros de montanha acima até chegar em Monte Verde.

Paramos no bar do seu Pedrão, conhecidissimo por preparar galinhada caipira para os viajantes que por lá passavam em caravana, rumo a Aparecida do Norte. No inicio era um precinho carinhoso e seu Pedrão pegava as danadas ainda no quintal, depois de uma pequena observada do cliente que a iria comer dali a poucos minutos. Com o passar do tempo, a procura se tornou uma constante e seu Pedrão, que não era bobo nem nada, viu um excelente comércio se descortinando em sua frente. A partir daí as galinhas caipiras foram super faturadas pelo velho mineiro que tirava um bom lucro com as penosas.


Bom, perguntamos ao seu pedrão quanto ainda faltava para chegarmos ao nosso destino. Com aquele seu jeitinho mineiro caracteristico, disse: "ah, só farta um cadinho sô". Faltavam ainda portanto, míseros 30 quilômetros. Era fácil, para quem já havia pedalado 170 quilômetros e ainda por cima, tínhamos mais 4 horas de luz diurna. Nos entreolhamos e todas as cabeças se moveram em afirmativo, ou seja, estava lançada a sorte, iriamos prosseguir naquele mesmo dia.

Nos despedimos do seu Pedrão, e o danado ainda teve as manhas de nos lembrar que era para tomarmos muito cuidado por causa das descidas fortes pelo caminho. Descidas? pensei. Eram verdadeiras ladeiras cheias de erosão com cascalho e pedras soltas. Um tombo ali seria o fim da linha para qualquer biker experiente.



Depois de uns 15 quilômetros a coisa começou a pegar. Já estávamos cansados, a noite já se anunciava devagarinho. De repente vi lá no alto uma construção que me pareceu ser a parte de trás de um hotel. É claro que o sarro comeu solto. Alegaram então que eu estava vendo miragem. Uns mais afoitos me disseram que estava ficando louco por causa dos quilômetros pedalados até ali. Mas um não deu nenhuma opinião; o Laurão estava se sentindo abatido e já soltava alguma coisa do tipo: "ah se passasse por aqui um carro ou uma carroça, pediria para o sujeito dar uma carona, mesmo que significasse pagar muito por aquilo". O Tito, meu compadre, tinha um estoque de comida no bolso da camisa de ciclismo e cedeu ao Lauro um punhado de uvas passas, o qual comeu avidamente.

Era final de setembro, não havia previsão de chuvas, mas subitamente começou a cair uma garoa fria para nosso desespero. Esfriou ainda mais. Minhas mãos começavam a congelar. Seguimos contornando o que parecia ser um morro. Caímos na estrada que liga Camanducaia a Monte Verde. Logo em seguida, estávamos em frente a um hotel, o Green Mountain. Entramos com tudo, nem perguntamos o preço. Com chalés típicos das moradias dos Alpes, ficamos extasiados quando o único sobrevivente daquelas paragens nos disse que havia vaga e o preço não era o absurdo que imaginávamos. Ficamos eufóricos. Só que ainda tinha uma ultima coisinha. A recepção do hotel era além de uma rampa monstruosa. Teríamos que ir até lá para o registro oficial de entrada. Foi uma doidura percorrer os últimos metros daquele chão. Estava escuro, frio e ainda caía aquela garoa fina.
Mas valeu a experiencia, se é que assim posso dizer: Foram 14 horas de pedaladas. Depois de tomado banho e colocado roupas quentes, fomos jantar uma comidinha mineira. E para comemorar, meus amigos tomaram 14 cervejas, uma para cada hora pedalada. foi uma verdadeira festa. Só se ouvia: John, trás mais uma geladinha!!
Dormimos como anjos. Uns ainda chegaram a delirar a noite na cama por causa do esforço empreendido na pedalada. Retornamos a Indaiatuba no dia seguinte. Detalhe: de carro!!


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